Oi gente!
Ontem estava eu louca atrás de um livro pra ler...Tenho sempre livros que compro eu por algum motivo, não leio...
Aí, depois de não me interessar por nenhum dos livros novos, resolvi "desenterrar" um que li a muito tempo atrás, o Chic[érrimo] de Gloria Kalil...Li esse livro em 2004, quanto tinha acabado de me formar na faculdade...
No meio da minha folheada despretenciosa, achei um texto muito sábio, que gostaria de compartilhar com vocês...Acho que isso que é dito nessas 2 páginas do livro é bem apropriado para o que está acontecendo hoje no mundo da moda e na Blogosfera...
Vamos lá...
❝ Meu pai era amigo de Marcelino Carvalho, um homem de sociedade que escrevia sobre estilo e boas maneiras nos anos 1950. Era um homem encantador, pequeno, de voz rouca, sempre vestido de terno príncipe-de-gales, chapéu e flor na lapela. Um dia, ele liga para nossa casa e pede para falar com meu pai com urgência. "Mario", disse ele aflitíssimo, "fui informado de que vou sair na lista dos homens mais bem vestidos do país. Eles não sabem que só tenho dois ternos!" Deus do céu! Eram outros os tempos em que um homem com apenas dois ternos no armário podia ser considerado um ícone de elegância. É claro que o mundo ainda não havia sido invadido pela mídia, não havia revistas e jornais fotografando as pessoas a cada passo, mostrando detalhes de suas roupas, a grife dos modelos, o preço das jóias e a procedência dos sapatos, como se faz em nossos dias. Naquele tempo, o mundo dos chics era fechado, restrito, exclusivo e íntimo.
E hoje? Como é ser chic num mundo totalmente ligado à imagem e à exterioridade? Dá para ser chic nestes tempos narcisistas em que uma foto na imprensa funciona como um documento de identidade, um verdadeiro atestado de existência no mundo?
Quando começa a corrida desesperada atrás de notoriedade e aparência?
Desde o momento em que não se pergunta mais "quem é você" mas, "quem você conhece".
Quem é você? Antigamente, essa era a primeira pergunta que se fazia a um desconhecido.
E você se apresentava, definindo a sua pessoa com os dados que achasse importante.
O que você faz? Depois, a profissão passa a representar a sua posição no mundo.
O que você tem? Aqui, o esnobismo mostra claramente as garras: seu status dependerá do carro, da grife da roupa, do bairro onde mora. Você passa a valer o que tem.
Quem você conhece? Você só será considerado se conhecer pessoas importantes.
Quantas possoas conhecem você? A sua identidade agora vai depender da sua popularidade. Muitas pessoas precisam falar de você, comentar sobre seus hábitos. Você precisa ser muito conhecido para ser reconhecido no mundo.
Seguindo essa escala de insuportável esnobismo, certamente o próximo passo será:
Quem conhece você? Agora o desafio é que, além de ser popular, você precisa do reconhecimento de pessoas famosas e que estejam "em alta" na mídia.
Acho que se chegou ao fundo do poço do esnobismo. Ou será que ainda pode piorar?
Prefiro pensar que está se fechando um ciclo - como, aliás, já aconteceu antes na história. Talvez esteja chegando a hora de voltar ao "Quem é você?" Ou, mais importante ainda: "Quem você quer ser?"❞
fonte: Chic[érrimo] de Gloria Kalil, páginas 18 e 19.
Beijos ♥